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Um errante em argolas de fumo mesto

quarta-feira, junho 04, 2003

O Cigano via-se achado num trilho por ele próprio criado à força dos seus passos. No seu rosto observa-se tranquilidade: ainda havia de chegar a uma clareira:

- Ainda não eram três tarde quando a vi a olhar-me. Aproximei-me lentamente. A dez passos dela, agachei-me, peguei num punhado de terra e atirei-lhe para os pés. Ela incandesceu. Pelos seus poros, saíam gotas de suor e à distancia de um braço inalei aquele odor. Aquele cheiro a sexo, cheiro animal prestes a ser possuído.
Horas depois a tarde desvanecia e ao olhar para esta cigana de cabelos soltos e voz quente quando gemida, apercebi-me que após movimentos tão genitais, repousavam tranquilos, os olhos mais vivos que havia visto até então.
E então?

domingo, junho 01, 2003

- A noite passada não consegui dormir.
A noite estava escura e ecoava um choro de uma criança ou de uma gata a parir… não conseguia distinguir. Sei que cada vez que fechava as pálpebras, uma imagem terrível assolava o espectro do meu sonho: era o som que eu imaginaria de uma criança a chorar no leito da morte da sua mãe. Era arrepiante. O meu lado mais racional dizia-me que era uma gata que estava a ter um parto difícil e doloroso e por isso não miava, berrava… mas o meu lado sombrio era mais forte e lançava-me a morte de uma mãe e o choro lancinante de um órfão.
Não dormi para não ter pesadelos até que o sono foi mais forte e acordei na manhã já quente.
E então?
O Cigano segue o balbucio do rio, os seus murmúrios e confissões mudas. A forma como desgasta, erodindo lenta e languidamente o leito rochoso e como vai esculpindo cada pedrinha, arredondando-as como uma mão massaja um corpo, erótica. O rio é sereno e ensina-lhe a tranquilidade, aquela introspecção em que os pensamentos rolam sem gravidade.
O destino ou para onde o seu corpo caminha, é irrelevante. É uma erosão e renovação constantes da sua matéria, na qual tudo se transfigura, tudo se transforma. E então?

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