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Um errante em argolas de fumo mesto
segunda-feira, setembro 22, 2003
Este gadje, é que a sabia bem:
"Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela
A minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive
O diabo na mão
Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi
O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito
De penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão
Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá
Outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive
O diabo na mão
Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio
O diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas
Que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive
O diabo na mão"
Zeca Afonso E então?
"Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela
A minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive
O diabo na mão
Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi
O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito
De penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão
Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá
Outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive
O diabo na mão
Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio
O diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas
Que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive
O diabo na mão"
Zeca Afonso E então?
terça-feira, setembro 09, 2003
Revitalizar
Dizem que da calma e do sossego, nascem as melhores reflexões. A calma e o sossego sempre me causaram arrepios, aquela sensação que algo vai estoirar de um momento para o outro.
Eu cá sempre preferi o barulho da tempestade, do vento a estimular as árvores, dos ramos a soltarem folhas e da chuva a encher os leitos. Sempre senti uma tempestade, não como destruição mas como revitalização. Sempre fui Cigano de ter a sua adaga no peito, de sentir brilhante e intensamente as cores da força dos elementos: se o vento parte, o fogo consome, a água arrefece e a terra absorve. Quando a terra absorve, nova vida nasce. E então?
Dizem que da calma e do sossego, nascem as melhores reflexões. A calma e o sossego sempre me causaram arrepios, aquela sensação que algo vai estoirar de um momento para o outro.
Eu cá sempre preferi o barulho da tempestade, do vento a estimular as árvores, dos ramos a soltarem folhas e da chuva a encher os leitos. Sempre senti uma tempestade, não como destruição mas como revitalização. Sempre fui Cigano de ter a sua adaga no peito, de sentir brilhante e intensamente as cores da força dos elementos: se o vento parte, o fogo consome, a água arrefece e a terra absorve. Quando a terra absorve, nova vida nasce. E então?
quinta-feira, setembro 04, 2003
Os Gadje
Os gadjes dizem que nós somos vento no deserto: não paramos nunca. O Homem não foi feito para parar, replico. O movimento faz parte da natureza e da estagnação só pode vir doença. Vivemos felizes pois não estamos engaiolados, não vivemos em apartamentos, sentimos o ar a festejar a nossa pele. Os Gadje são animais de zoológico, nunca compreenderão o que é partir para outro lugar e não permanecer.
O tempo não tem de ser contado pelo relógio, não se coaduna com segundos ou minutos. O tempo não reconhece os meses e os anos. O tempo obedece apenas à Lua e ao Sol, tal como as estações e as marés... tal como os Ciganos. Certo Gadje (Lavoisier) disse um dia que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, julgo que não se referia a indústrias nem à arte de transformar recursos naturais em objectos para uso dos Gadje. A frase de Lavoisier, refere-se à vida e à influência dos elementos na Natureza e não da influência dos Homens na mesma.
Ser Cigano é ser nómada, é ser um transeunte de espírito, é ser um servo dos elementos, aceitá-los e viver à medida dos mesmos. E então?
Os gadjes dizem que nós somos vento no deserto: não paramos nunca. O Homem não foi feito para parar, replico. O movimento faz parte da natureza e da estagnação só pode vir doença. Vivemos felizes pois não estamos engaiolados, não vivemos em apartamentos, sentimos o ar a festejar a nossa pele. Os Gadje são animais de zoológico, nunca compreenderão o que é partir para outro lugar e não permanecer.
O tempo não tem de ser contado pelo relógio, não se coaduna com segundos ou minutos. O tempo não reconhece os meses e os anos. O tempo obedece apenas à Lua e ao Sol, tal como as estações e as marés... tal como os Ciganos. Certo Gadje (Lavoisier) disse um dia que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, julgo que não se referia a indústrias nem à arte de transformar recursos naturais em objectos para uso dos Gadje. A frase de Lavoisier, refere-se à vida e à influência dos elementos na Natureza e não da influência dos Homens na mesma.
Ser Cigano é ser nómada, é ser um transeunte de espírito, é ser um servo dos elementos, aceitá-los e viver à medida dos mesmos. E então?
quarta-feira, setembro 03, 2003
Livro
Muda a página, acaba o capítulo e fecha o livro. A história agora é outra, o ritmo e o intercalar das palavras é outro. Já não se cruzam assim
as vidas cruzam-se
E a manhã?
Fechei o livro, acabei o capítulo e arranquei a página para que este deixe de fazer sentido. De nada me serve um livro completo se as palavras fizerem sentido.
Agarra a minha mão, por favor!
O relógio marca as horas, os minutos habituais de cada dia
As vidas cruzam-se, consegues ouvir? Consegues consertar as sílabas que se soltaram do texto?
Agarras a minha mão ou posso cair?
No alcatrão
No chão que ferve nas minhas mãos
Tenho queimaduras de terceiro grau no rosto. Tenho a voz em carne viva e os olhos inflamados de tanto tossir.
Ontem ouvi um cigano a lamentar-se, as suas palavras eram sangue e os meus ouvidos estavam longe de ser álcool. Senti-me infectado. A minha dor era lancinante, a minha privação de liberdade era horrível
Não é assim que se chora
Sentia as forças no chão. O cigano cantava prisão, eu mais não era que o seu carcereiro. Dêem-me um martelo!! Dêem-me uma forca… não, dêem-me uma espada, quero cortar as minhas mãos, para que eu não possa usar algemas como adorno… dêem-me água.
E então?
Muda a página, acaba o capítulo e fecha o livro. A história agora é outra, o ritmo e o intercalar das palavras é outro. Já não se cruzam assim
as vidas cruzam-se
E a manhã?
Fechei o livro, acabei o capítulo e arranquei a página para que este deixe de fazer sentido. De nada me serve um livro completo se as palavras fizerem sentido.
Agarra a minha mão, por favor!
O relógio marca as horas, os minutos habituais de cada dia
As vidas cruzam-se, consegues ouvir? Consegues consertar as sílabas que se soltaram do texto?
Agarras a minha mão ou posso cair?
No alcatrão
No chão que ferve nas minhas mãos
Tenho queimaduras de terceiro grau no rosto. Tenho a voz em carne viva e os olhos inflamados de tanto tossir.
Ontem ouvi um cigano a lamentar-se, as suas palavras eram sangue e os meus ouvidos estavam longe de ser álcool. Senti-me infectado. A minha dor era lancinante, a minha privação de liberdade era horrível
Não é assim que se chora
Sentia as forças no chão. O cigano cantava prisão, eu mais não era que o seu carcereiro. Dêem-me um martelo!! Dêem-me uma forca… não, dêem-me uma espada, quero cortar as minhas mãos, para que eu não possa usar algemas como adorno… dêem-me água.
E então?