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Um errante em argolas de fumo mesto

quarta-feira, junho 02, 2004

Piro memórias

Mão firme, tens ainda muita história para gravar nesse pedaço de madeira: cada labareda correspondida com um desenho correspondido com uma memória. A chama chamada a intervir no registo de um acontecimento.

Da pira de onde ardem os segredos bem guardados, libertam-se os fumos malcheirosos de desejos recalcados. Os favores concedidos e as benesses concedidas por troca de uns cêntimos são pedaços de carvão em brasa. És um verme, um corrupto, pior: és um voyeur ou pensas que não te vi a espiar as sombras saídas de um quarto vizinho ao teu? Aposto que te masturbaste com as silhuetas divertidas.

Esse fogo é escanzelado mas esfomeado, come-te todos os pedaços, até aqueles que julgas incombustíveis. Arrasta-se pela tua pele lenta mas vorazmente, sem qualquer misericórdia... não a mereces, não é verdade? Daqui a uns minutos serás um pedaço de derme encarquilhado à volta de pedaços de carne e músculo carbonizado. A tua massa encefálica, com um pouco de sorte, evaporará. E de ti, só restarão os teus ossos para serem pendurados na praça mais movimentada da cidade... nojento. Quero ouvir o último gemido que sair da tua garganta inflamada, quero sentir esse "ai" encalhado na secura da tua língua, colado ao céu da boca, enquanto os teus dentes caem um após outro impedindo sequer essa sílaba miserável de assobiar pelos teus lábios desfeitos em papa.
E então?

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